Evento reuniu socioeducandos, defensores e gestores em uma tarde marcada por reconhecimento, esperança e novas perspectivas de futuro
A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) encerrou, nesta quinta-feira (18), as atividades de 2025 do programa Ensina-me a Sonhar com um evento realizado na quadra poliesportiva do Centro Socioeducativo Dagmar Feitoza, em Manaus. O evento, que contou com uma confraternização, reuniu adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, familiares, gestores e defensores públicos, e marcou a entrega de certificados às meninas que participaram das ações de empreendedorismo ao longo do ano.
Durante 2025, o programa promoveu oficinas, cursos, atividades culturais e encontros formativos com foco na ampliação de horizontes e no fortalecimento de projetos de vida de adolescentes privados de liberdade. A iniciativa é coordenada pelos defensores públicos que atuam diretamente na área da infância e juventude e aposta na educação, no diálogo e na escuta como instrumentos de transformação social.
Uma das responsáveis pela coordenação do programa, a defensora pública Monique Cruz disse que o encerramento simboliza mais do que o fim de um ciclo, mas o resultado de um trabalho contínuo construído ao longo de todo o ano dentro das unidades socioeducativas.
“Ao longo de 2025, desenvolvemos diversas atividades com os adolescentes, sempre ouvindo o que eles tinham interesse em aprender. Trouxemos profissionais de várias áreas, realizamos oficinas culturais, visitas externas, cursos e, hoje, conseguimos certificar os socioeducandos que participaram do Ensina-me a Empreender. Foi um ano intenso, de muito trabalho e de muitas oportunidades”, afirmou.
Para a defensora pública Dâmea Mourão, também coordenadora do programa, o encerramento das atividades deste ano tem caráter simbólico e emocional, especialmente por acontecer no período natalino. “O sentimento é de gratidão e de dever cumprido. Encerrar o ano com esse momento de confraternização é importante porque traz esperança. A ideia é renovar, em cada um desses jovens, a possibilidade de recomeçar, não apenas no próximo ano, mas na própria trajetória de vida quando deixarem a unidade”, disse.
De acordo com o defensor público Eduardo Ituassú, que atua nas Defensorias da Infância e Juventude e integra a coordenação do programa, o Ensina-me a Sonhar representa uma dimensão essencial da atuação da Defensoria. “Nosso trabalho não se limita ao processo judicial. Existe uma função social que passa por mostrar novos caminhos, novas oportunidades. Esse programa já deixou de ser apenas um projeto e virou um programa consolidado porque a Defensoria acredita que a transformação social também faz parte da nossa missão”, destacou.
“Aqui eu aprendi a mudar”, diz socioeducando do Dagmar
Entre os momentos mais marcantes do evento estiveram os relatos dos próprios socioeducandos, que compartilharam como a participação nas atividades do programa influenciou mudanças de comportamento, amadurecimento pessoal e construção de novos planos para o futuro.
Um adolescente de 17 anos, assistido pela Defensoria Pública, contou que chegou ao Dagmar Feitoza em um momento difícil, mas encontrou na unidade e nas ações do programa um espaço de apoio e aprendizado. “Minha entrada aqui foi bem turbulenta, mas nesse meio tempo eu aprendi muitas coisas. Aqui ninguém te julga pelo que você fez. Eu amadureci muito desde que cheguei. Hoje eu penso em faculdade, em fazer Ciência da Computação e em sair daqui uma pessoa renovada”, relatou.
Ainda segundo o socioeducando, o Ensina-me a Sonhar ampliou sua visão sobre o mundo profissional e ajudou na definição de objetivos. “O projeto trouxe pessoas de várias áreas para conversar com a gente. Vi jornalistas, médicos, bombeiros. Isso ajuda a pensar no que a gente quer para a vida. Hoje eu tenho certeza de que posso construir um futuro diferente”, afirmou.
Outro adolescente do Dagmar, de 16 anos, também assistido pela Defensoria, ressaltou a importância dos cursos profissionalizantes oferecidos dentro da unidade. “Aqui a gente tem curso, tem oportunidade de aprender e trabalhar lá fora. Isso muda a vida da gente. Eu quero sair daqui, trabalhar, dar orgulho para minha mãe e mudar de vida”, disse.
A diretora do Centro Socioeducativo de Internação Feminina, Kelly Maia, avaliou que a parceria com a Defensoria Pública fortalece o trabalho desenvolvido na unidade e amplia as possibilidades de reintegração social. ‘O Ensina-me a Sonhar transforma o nosso trabalho com as adolescentes e os adolescentes. Eles têm criatividade, vontade de empreender, mas muitas vezes não sabem como começar. O programa abre horizontes e oferece oportunidades reais de crescimento pessoal e social”, pontuou.




Certificação das meninas
O evento também marcou a entrega de certificados às adolescentes que participaram do Ensina-me a Empreender, iniciativa voltada à formação em empreendedorismo.
Uma socioeducanda de 16 anos relatou que o curso a ajudou a planejar o próprio negócio. “Eu aprendi que dá para ter meu próprio negócio. Eu penso em trabalhar com tranças e abrir um salão. Agora eu consigo entender melhor como fazer isso, como empreender”, contou.
A diretora Kelly Maia reforçou que a Defensoria Pública desempenha um papel essencial dentro do sistema socioeducativo. “A Defensoria já conhece nossas dificuldades e limitações porque está presente nas unidades. Essa parceria é antiga e fundamental para transformar a vida dos socioeducandos, com uma atuação humanizada que acredita na mudança”, afirmou.
Com o encerramento das atividades de 2025, o programa Ensina-me a Sonhar estabelece mais um ano de atuação dentro do sistema socioeducativo e projeta novas ações para 2026, mantendo o foco na educação, no acolhimento e na construção de novas oportunidades para adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Texto: Ed Salles
Foto: Luiz Felipe Santos/DPE-AM
