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Com apoio da Defensoria, reeducando do sistema penitenciário de Humaitá se prepara para graduar em Educação Física em 2026

Instituição atua para garantir direito previsto na Lei de Execução de Penal de redução do tempo de cumprimento da pena por meio de atividades educacionais

João*, 43 anos, natural do Espírito Santo, no sudeste do país, está preso desde 2004 e atualmente cumpre pena no sistema fechado da Unidade Prisional de Humaitá, município distante 675 quilômetros de Manaus, no sul do Amazonas. Hoje, com o apoio da Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) realiza o sonho de cursar o sexto período de Educação Física, um direito previsto na Lei de Execução Penal (lei nº 7.210/84).   

João conta que pediu transferência para o Amazonas, ao descobrir que esse é um dos poucos estados no Brasil a colocar em prática o programa de remição de pena. 

“Eu sempre tive um sonho de fazer a minha faculdade e como estou preso há muito tempo, 21 anos, eu decidi colocar em prática os meus sonhos”, declarou. “Saí do Espírito Santo para Rondônia primeiro, mas, infelizmente, Rondônia não dava o direito para a gente fazer a faculdade no sistema fechado. Conversando com uma advogada, ela me falou que o Estado do Amazonas proporcionava isso”, disse. 

Educação é um dos direitos previstos na Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) e é uma das formas que condenados têm de ter remição da pena, ou seja, a redução do tempo de cárcere em função das horas de estudo ou trabalho. 

Em Humaitá, o defensor público Newton Cordeiro tem participado das tratativas interinstitucionais com o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) para garantir o cumprimento desta medida. 

“A Lei de Execução Penal elenca a Defensoria Pública como órgão de Execução Penal. Temos o dever de acompanhar os presos para que eles possam se ressocializar. Tem uma Ação Civil Pública, justamente aqui em Humaitá, para que o presídio cumpra todas as adequações dessa legislação”, disse o defensor. 

João já realizou outras atividades dentro do sistema como forma de ocupar o tempo e a mente. “Desde que cheguei em Humaitá, eu procuro dar o meu melhor no que eu faço. Foi aqui que eu consegui a oportunidade de trabalhar na cozinha, como serviços gerais”, relatou.  

João cursa a faculdade na modalidade de Ensino à Distância (EAD), tendo acesso às aulas gravadas, sem acesso à internet. “As atividades são impressas e trazidas aqui para mim. A prova também é impressa e vem até mim. Eu faço a prova acompanhada pelo fiscal e assim, vou concluindo minha faculdade”, descreveu. 

O próximo período do curso será de estágio obrigatório e João já recebeu a autorização para realizar essa etapa. “Com esse estágio, eu pretendo ganhar experiência, porque se abre a possibilidade do mercado de trabalho, não só para mim, mas também para outras pessoas que estão no sistema fechado, para que eles também possam ter uma oportunidade”, ressaltou.  

Retorno para a sociedade 

O defensor que acompanha o caso destaca que o direito de remição de pena é uma vantagem não só para o reeducando, mas toda a sociedade. Ele explica que, ao trabalhar ou estudar, existe a chance de o preso encontrar novas perspectivas de futuro, reduzindo as chances de reincidência criminal. Além disso, com menos tempo de cárcere, há uma economia para o Estado.   

“Um preso custa em torno de 5 a 7 mil reais para os cofres públicos, de acordo com o estudo da Fundação Getúlio Vargas. Se houver um trabalho para ressocializar e cumprir o que a lei determina, eventualmente eles podem ser ressocializados e ainda trazer um retorno para a sociedade”, detalhou o defensor. 

Newton complementa ainda: “Buscamos apresentar novos caminhos, novos rumos para aquele ser humano que errou, mas está suscetível a melhorar”.  

João tem o objetivo de se tornar professor de educação física e dedicar-se a projetos sociais envolvendo a prática de esportes. “Nós sabemos que o esporte contribui bastante para que as pessoas consigam se afastar [do mundo da criminalidade]”.  

O reeducando também quer ser uma inspiração para os colegas de cela.  

“Você ser preso sem ter expectativa é muito ruim. E quando a gente encontra essas portas abertas, isso incentiva a gente a largar esse mundo do crime, incentiva a procurar caminhos diferentes e tornar pessoas melhores”, concluiu. 

Assista à história de superação e esperança:

*Nome fictício 

Texto: Thamires Clair 

Foto: Junio Matos/DPE-AM 

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