Atividade faz parte do projeto “Vida que Segue”, que tem a proposta de auxiliar as assistidas na superação desta fase (Fotos: Evandro Seixas-DPE/AM)
Nós mulheres passamos por muitas situações difíceis. Eu engravidei cedo, passei por muitos momentos de violência e isso desencadeou depressão. Mas graças a Deus e ao projeto, eu venho superando tudo isso. Não pense que o divórcio é fácil, a gente fica com medo, sem saber pra onde vamos, como vamos ficar, mas tenha a certeza, assim como eu, de que tudo passa e a gente pode superar qualquer situação
Esse foi o depoimento da Paula* durante a 3ª edição do projeto “Vida que Segue”, promovido pela 1ª Instância de Família da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), na tarde desta sexta-feira (28). A ação foi voltada para mulheres em situação de divórcio e promoveu, além de assistência jurídica gratuita, o fortalecimento emocional, profissional, financeiro e o empoderamento feminino com sessões de embelezamento. O objetivo é ajudar esse público na superação desta fase.
Durante o evento, que aconteceu no auditório da sede, localizado na Av. André Araújo, foram abordados diversos temas, como tipos e ciclos de violência contra as mulheres, dados desse crime no país, e contou com a participação da idealizadora do projeto, a defensora pública Carolina Carvalho, a assistente social da Procuradoria Especial da Mulher, Karolina Aguiar, a professora de Ioga, Camila Borges, que trouxe ensinamentos da prática de meditação, e diversas assistidas atendidas pelo projeto.
Para a defensora Carolina Carvalho, a realização da roda de conversa ajuda a resgatar a autoestima das mulheres e faz com que elas se reconheçam em histórias de outras mulheres. “Elas chegam aqui com a autoestima destruída, pois não sabem o que é o autocuidado ou até mesmo, um tempo para si. E a gente tenta resgatar tudo isso proporcionando conhecimento sobre as fases do divórcio para que elas entendam que essa não é uma fase fácil, mas que vai passar, e que elas precisam de ajuda e a Defensoria pode ser essa fonte de esperança por dias melhores”, afirmou a defensora.
Patrícia* contou que aos 15 anos, com o divórcio dos pais, muitas responsabilidades foram projetadas sobre ela. “Eu comecei a trabalhar muito cedo e assumi a responsabilidade dos meus pais. Quando eu tive meu primeiro filho, eu tinha 18 anos, e eu sempre sofri preconceito, não conseguia me relacionar com outros homens pois eles achavam que teriam que assumir meu filho. Até que eu conheci uma pessoa que parecia ser muito boa e me mostrou uma oportunidade de sair da casa da minha mãe. Nós casamos e eu tive mais um filho. Ao longo do meu relacionamento, eu sofria abusos psicológicos camuflados, ele me permitiu estudar Direito, mas não me deixava estudar pra fazer a prova da OAB. Hoje, mesmo divorciada, ele ainda me prejudica pois tem o controle financeiro. E mesmo que eu ainda não tenha resolvido tudo, eu não me permito mais ser subjugada financeiramente e nem psicologicamente. Então eu tô correndo atrás de passar na prova pra conseguir minha independência total”.
Um dos pontos destacados durante a roda de conversa é que, além da pressão familiar e da bagagem de crenças e cultura que as pessoas carregam, há ainda a pressão imposta pela sociedade de que é necessário ter um relacionamento. Para Sinthia Mar, psicóloga do projeto, é necessário a busca pela qualidade de vida a dois, e não apenas um status.
“Nós não podemos estar com um/uma companheiro (a) de qualquer forma e aceitar tudo o que vem disso, principalmente quando se trata de pontos negativos. E a gente traz pra essas mulheres que nos procuram, essa reflexão do que é ter um parceiro, um amor tranquilo, e tentamos desmitificar essa história de que estar sozinho é um problema, porque não é. O que importa é estar bem consigo e feliz”.
A Joana*, que começou a ser atendida pela equipe do projeto três dias após o divórcio, relembrou situações vividas com o ex-marido e agradeceu a ajuda recebida pela equipe do “Vida que Segue”. “Todas as situações faladas aqui, eu vivi. Com uma semana de relacionamento, eu já estava sofrendo violência psicológica e depois, física. Eu pensei e tentei tirar a minha vida, mas graças a Deus e graças ao projeto, hoje eu estou de pé, estou viva e estou bem. A lição que eu deixo hoje é para que em primeiro lugar vocês amem a Deus e em segundo, vocês próprias. Vai doer, vocês vão sofrer, mas tudo passa. Hoje eu faço o que eu quero, como o que eu quero, visto o que eu quero”.
O encerramento da 3ª edição do projeto aconteceu com uma dinâmica chamada “A Travessia”, na qual as participantes foram até o palco do auditório e atravessaram o espaço para simbolizar o rito de passagem do passado, onde vivenciaram experiências negativas, para o presente e futuro, onde uma nova história está sendo escrita. Em seguida, um coquetel foi servido para brindar a nova fase.
Sobre o projeto
O projeto “Vida que Segue” está na 3ª edição e conta com uma equipe multidisciplinar, composta por defensora pública, psicóloga e assistente social, que atuam com o objetivo auxiliar as assistidas na superação da fase de divórcio através da prestação de serviços gratuitos, como assistência jurídica gratuita, fortalecimento emocional, profissional, financeiro e empoderamento feminino.
*Nomes fictícios para proteger as identidades.
Texto: Rayssa Coutinho