A adolescente está no último ano do Ensino Médio e, recentemente, conseguiu seu primeiro estágio no Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa)
C.B.S tinha 13 anos quando, em 2021, sua vida foi marcada pela tragédia. Sua mãe, grávida, foi assassinada pelo companheiro, deixando duas filhas órfãs. Desde então, a adolescente é acompanhada pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), por meio do projeto Órfãos do Feminicídio, do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (Nudem).
“A dor é imensa, mas o tempo ajuda a amenizar. O Nudem foi essencial para minha recuperação, tanto emocional quanto psicológica. Agradeço por todo o apoio, as conversas e o acolhimento”, disse a jovem.
C.B.S descreve o impacto emocional da perda, especialmente após a morte de sua mãe, com quem tinha uma relação muito próxima. “No início, não via um futuro sem ela. Mas com o tempo, fui entendendo o processo e me recuperando”, relatou.


Hoje, aos 17 anos, a adolescente está no último ano do Ensino Médio e, recentemente, conseguiu seu primeiro estágio na Defensoria Pública do Amazonas, no Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa). Embora seu sonho inicial fosse cursar Medicina, C.B.S agora considera uma carreira no Direito, mostrando a reviravolta em sua trajetória.
“Eu não imaginava que minha vida tomaria esse rumo. Agora, penso em um futuro no Direito e quero mostrar à minha família e à Defensoria onde posso chegar”, afirmou.
C.B.S também se preocupa com outros jovens que enfrentam perdas semelhantes. “Sei o quanto é difícil, mas vale a pena seguir em frente. Existem outras pessoas que nos amam e querem nos ver bem”, completou.
Sobre o Projeto
Criado em 2018, o projeto Órfãos do Feminicídio surgiu para preencher a lacuna de apoio a crianças e adolescentes que ficam órfãos após o assassinato das mães. O projeto oferece acompanhamento jurídico, psicológico e social, com apoio de defensores, psicólogos e assistentes sociais. Até hoje, o projeto já atendeu cerca de 27 famílias, totalizando mais de 130 pessoas.


A equipe do projeto realiza um acompanhamento inicial para identificar os casos, por meio da mídia e parcerias com o Núcleo de Feminicídio. Após o contato com as famílias, é oferecido um espaço na Defensoria Pública para apresentar os serviços disponíveis, incluindo demandas jurídicas e psicossociais, como a regularização da guarda das crianças e acesso a benefícios como pensão por morte e Bolsa Família.
A assistente social Márcia Moraes explica que, além de resolver questões jurídicas, o projeto oferece suporte emocional e orientações para ajudar as famílias a se reorganizarem. “O sofrimento dessas famílias é profundo, muitas vezes tornando difícil que encontrem forças para enfrentar a situação. O projeto assegura que direitos fundamentais não sejam negligenciados e contribui para a recuperação das crianças e seus responsáveis.”
Superação e Mérito
Márcia destaca a trajetória de C.B.S como um exemplo de superação. “Ela conseguiu o estágio na Defensoria por mérito próprio. A orientamos durante o processo seletivo, mas ela passou por todas as etapas sozinha. Isso é uma grande conquista, especialmente em um contexto de tanta vulnerabilidade”, comentou.
A psicóloga Polyana Pinheiro, que acompanhou C.B.S, acredita que sua história reforça a importância do projeto. “O acesso a direitos é fundamental para qualquer adolescente, principalmente após uma experiência de violência extrema como o feminicídio. O projeto não apenas proporciona isso, mas também ajuda a reconstruir a memória e o futuro dessas crianças”, afirmou.

O Impacto do Projeto
O projeto Órfãos do Feminicídio é um alerta para a necessidade urgente de políticas públicas eficazes contra a violência de gênero. A defensora pública Caroline Braz, idealizadora do projeto, conta que a ideia surgiu após sua participação em um júri de feminicídio, quando percebeu a ausência de apoio às crianças que perdiam as mães para essa violência.
“Casos como o de C.B.S mostram que nosso trabalho está fazendo a diferença. Quando conseguimos salvar uma vida, já vale a pena”, destacou Caroline.
Reconhecimento Nacional
Em 2021, o projeto Órfãos do Feminicídio conquistou o 18º Prêmio Innovare. A visibilidade do projeto resultou na criação da Lei 14.717/2023, sancionada pelo presidente Lula, que garante pensão especial para filhos e dependentes de vítimas de feminicídio.
“Antes do projeto, essas crianças eram invisíveis. Agora, com o reconhecimento nacional, estamos conseguindo garantir a dignidade e o amparo necessário a essas famílias”, concluiu Caroline.
Texto: Karine Pantoja
Fotos: Brayan Riker/DPE-AM