A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) realizou, nesta sexta-feira (29), o Talk Show ‘Nosso Coração também é Azul – Lugar de autista é em todo lugar’. Estagiários da instituição compartilharam vivências e também experiências em projeto da instituição que disponibiliza vagas de estágio para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
O Talk Show foi promovido pela Escola Superior da DPE-AM (Esudpam) em parceria com a Coordenadoria de Projetos e Programas e a Diretoria de Gestão de Pessoas. A ação adere à campanha nacional “Lugar de autista é em todo lugar!”, que tem o propósito de conscientizar a população em geral sobre o direito das pessoas com TEA, tendo em vista a inclusão deste público em todos os âmbitos, aspectos e contextos em nossa sociedade.
Participaram do encontro os estagiários Hélio Gabriel Areosa e Thiago Hernandes, além da ex-estagiária Euza Priscila Lima. O evento contou também com a presença da psicóloga Vera Araújo Pereira e da mãe de um dos estagiários do projeto, Izabel Cristina Hernandes.
Para Hélio Areosa, estudante finalista do curso de Direito, o estágio proporcionou a superação de algumas crenças que ele tinha sobre si.
“Descobri que o que mais me limitava era a minha mente. Desde jovem, nunca tinha entrado no mercado de trabalho, não tive a oportunidade de estagiar por ter o sentimento de que não iria dar conta, de que eu não seria acolhido e graças ao projeto eu tive a oportunidade de quebrar essas amarras”, disse Hélio.
O jovem atuou na Defensoria Cível na área de atendimento. “Na Defensoria Cível tive a oportunidade de lidar com atendimento aos assistidos. Umas das minhas limitações é a comunicação, mas a experiência no estágio me proporcionou desenvolver a minha comunicação com pessoas diversas, assim como conhecer um pouco da rotina da Defensoria. Para mim, foi muito gratificante o assistido procurar a Defensoria e pedir para ser atendido por mim. Sempre perguntavam se o ‘Doutor Hélio’ estava”, conta sorrindo o estagiário, que atualmente atua na área de interesses coletivos, onde está lidando com a parte administrativa dos processos.
A ex-estagiária da Defensoria Euza Priscila Lima, atualmente estudante de Medicina, também citou sua participação no projeto ‘Nosso Coração é Azul.
“Quando decidi participar do projeto pensei que a experiência seria importante para desenvolver a questão da sociabilidade. Passei seis meses trabalhando na Diretoria Administrativa e foi ótimo, eu me senti acolhida. Eu já havia trabalhado em lugares que me causavam fobia, mas aqui foi diferente. Aprendi a fazer coisas que para muitos é simples, mas para mim, fez toda a diferença. Antes, o toque me incomodava, aqui aprendi a abraçar. As pessoas que trabalhavam comigo não viam o autismo, não me viam como uma pessoa com dificuldades. Eu não entendia por que as pessoas choravam quando precisavam se despedir, quando precisei sair do estágio, eu não conseguia controlar as lágrimas e então, eu compreendi que eu amava essas pessoas”, contou Euza.
Para a psicóloga Vera Araújo Pereira, projetos neste modelo contribuem para o desenvolvimento de pessoas com TEA. “O projeto está de parabéns, é importante que outras instituições tenham inciativas semelhantes. As pessoas com TEA precisam acreditar que eles podem ser aceitos em nosso mundo, muitos deles acham que não há espaço, projetos assim mostram o potencial incrível dessas pessoas”.
Projeto Nosso Coração também é Azul
O projeto Nosso Coração também é Azul foi idealizado e lançado em 2019, pela coordenadora de Programas e Projetos da Defensoria, defensora pública Flávia Lopes, falecida em abril de 2020. Inspirado em uma iniciativa semelhante da Defensoria Pública da Bahia, o projeto da DPE-AM, é inédito no Brasil por criar uma equipe multiprofissional destinada a selecionar os candidatos a estágio.
Texto: Ítala Lima
Fotos: Evandro Seixas